lunes, 12 de abril de 2010

23 de fevereiro

ando pensando muito no pai... saudades é assim. então resolvi resgatar um texto lá do disparatada, de quando eu tava bem longe de longe. Depois pensei que talvez eu devesse recuperar o blog inteiro... mas vamos lá continuo por aqui um pouco mais.

Lembro das pequenas manias que, se antes me irritavam, hoje tenho saudades. Tirar a meia quando ele chegava do trabalho, descer as escadas correndo pro beijo de boa noite depois de esperar pra jantar juntos, ficar tentando descobrir o que ele quer enquanto ele aponta pra algum objeto na mesa sem emitir nenhuma palavra, descer dois lances de escadas pra passar o saleiro que estava a um metro e meio do seu alcance, passar creme na perna desidratada, cuidar de alguma ferida, espremer os cravos, pegar gelo.

Penso que meu gosto por música é culpa sua. Acordar nos domingos de manhã com o som da casa na última altura. Normalmente a nona do Bethoven, Amor Brujo do Manuel de Falla ou o Bolero de Ravel. Quando estava mais animado era algo como Elis, Milton, MPB4 e em alguns dias mais raros Beatles e Simon e Garfunkel.

Lembro de cantar no carro enquanto faziamos viagens longaas, pra Caldas Novas, Serrinha e outras assim. O hino da Marinha (cisne branco que em noite de lua…), o hino do Roldão (lopes de barros), a música da bananeira, irmão sol e irmã lua (aleluia). Depois tinha também ouvir Legião (Faroeste Caboclo), Titãs (Homem Primata) e Paralamas (se as meninas do leblon não olham mais pra mim, eu uso óculos).

Lembro das músicas que ele costumava cantar e ninguém entendia. Dessas músicas de infancia que só ele era capaz de lembrar.

Lembro do relógio de madeira que a gente construiu quando eu era bem pequena pra eu aprender as horas, lembro de algumas aulas de física 3 dedos em pé tentando entender como se forma o campo magnético, as infinitas tentativas de me explicar frações, proporção (e o inversamente proporcional) e porcentagem, além de claro, resistencia e eletricidade (que eu nunca mesmo aprendi).

Lembro de ligar pra ele porque estava perdida no carro em algum lugar (não, eu não herdei o seu incrível senso de direção, muito pelo contrário), de pedir ajuda porque tinha que decidir sobre algum novo emprego, de dançar com ele na formatura. De contar os planos do futuro, desde ser astronauta (aos 6), atriz (aos 12), jornalista (aos 15), publicitaria (17), diretora de planejamento (21) e por fim um dia quem sabe trabalhar na ONU (24) – esse último ele não chegou a ver realizado.

Lembro até hoje da cara dele quando, no pré, eu fui oradora da turma e por saber meu texto de cor resolvi não ler o texto (que era o ponto da formatura, mostrar pros papais que sabiamos ler). Lembro o sorriso pequeno que ele abriu quando a professora veio outra vez colocar o texto na minha mão. Lembro que ele filmou a formatura e na filmadora, em 88 ou 89, fez uma edição pro texto que eu li aparecer no filme. Lembro quando ele preparou meu aniversário desse ano, com imagens do mikey e da mini e bixigas que caíam do teto.

Lembro de ele apoiar todos os sonhos mais absurdos, incluindo gravar uma fita comigo cantando pra tentar entrar no Balão Mágico. Lembro dele sempre encontrar a maneira de fazer os nossos gostos, fosse como fosse. Lembro de aprender a acampar, dirigir, pegar ônibus e disso tudo, ser independente.

Tenho rastreado em cada parte de mim exatamente onde tem o dedo dele. E é assim que sinto ele do meu lado até hoje.

E como não podia passar em branco. Feliz aniversário.

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