sempre que íamos no carro, nas muitas horas que separavam a casa do destino final, eu ía dormindo. Era o meu jeito de fazer o tempo passar rápido, as intermináveis horas que me separavam do desconhecido, do novo, do outro lugar, outras pessoas, outras gentes. Lembro que sempre em um ou outro momento acordava, com o comentário, dele ou dela, dizendo para olhar e ver qualquer coisa estática e impressionante que ficava para trás dos marcos determinados pelo vidro quadrado das janelas do carro. Lembro de não dar importancia, falar qualquer coisa (um tá bom mais) e voltar a dormir, enquanto brigava com meus irmãos pelo espaço sempre apertado - para as minhas (sempre) longas pernas - que tem a parte do meio do banco de trás.
ontem olhava pelas janelas do ônibus, que como sempre atrasado, me levava para outro lugar. distante, desconhecido, refúgio. olhava pela janela porque dessa vez, longe da inocência daquele outro tempo em que me preocupava o banco do carro, não podia dormir. olhava pela janela me lembrava dele dizendo que não dormisse, porque o mundo também passava por trás das janelas. também era mundo aquilo que ficava para trás e se podia ver só por segundos. passamos por um campo com enormes hélices de geração de enrgia eólica justo na hora do pôr do sol. sei que lhe perguntaria como funcionava aquela plantação elétrica. e que ele contaria, com detalhes, paciência, gosto e amor como a energia cinética se transformaria em elétrica, e como se armazenaria a energia do movimento, e como se movimentaria a energia da eletricidade. e depois de terminar sua explicação colocaria alguma música com o volume bem alto, para seguir aproveitando daquele mundo que voava pelos olhos.
me lembro desses diálogos, pequenos fragmentos de memória. penso no mundo que não vivi enquanto dormia.
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